Sobre frei Confaloni

A título de uma apresentação geral do artista, trazemos a fala de Px Silveira no evento em homenagem a frei Nazareno Confaloni, promovido pela prefeitura de Grotte di Castro, em 7 de setembro de 2024, com  apoio do Ministério da Cultura da Itália e financiamento da União Europeia.

Eu não vou dizer o seu nome. E vou começar esta história pelo fim. Quando ele morreu, a cidade inteira parou. Morreu muito jovem, aos 60 anos de idade, devido à intoxicação de chumbo presente na tinta que usava para pintar seus quadros, agravado pelo cigarro, que era seu único vício.

Ele era muito querido, não só no campo da arte, mas era conhecido e reverenciado também como missionário, pároco, professor universitário e ativista social. Sua morte foi noticiada nacionalmente. O prefeito da cidade e o governador do Estado abriram uma especial exceção e permitiram que seu corpo fosse enterrado fora do cemitério local, na Capela que fica embaixo da igreja São Judas Tadeu, que ele idealizou, projetou e construiu.

Não que fosse rico, muito pelo contrário. Ele construiu essa igreja de estilo modernista, então a maior da cidade, vendendo seus quadros em rifas ou os entregando em contrapartidas a doações de materiais para a construção, desde a areia, tijolos e o cimento, até os bancos da igreja. É lá que ele está sepultado, já rompendo 5 décadas, em uma pequena Capela sob o altar.

A praça onde fica essa portentosa igreja, na capital do Estado de Goiás, mais tarde passou a ter o seu nome. Outras homenagens vieram. Até o momento, 8 livros foram publicados com estudos de sua vida e sua obra. Ele virou também nome de rua, nome de escola pública, nome de edifício residencial, nome de hospital e maternidade, nome de galeria de arte, nome de prêmio, de centro comunitário e selo postal. Mais recentemente, passou a ser nome de dois museus, que surgiram com a finalidade de perpetuar os cuidados com seu legado artístico: um na cidade onde morreu, Goiânia, e o outro na cidade onde ele chegou ao Brasil, a cidade de Goiás.

Ele chegou ao Brasil no ano de 1950, vindo de navio da Itália, onde ele nasceu, em 1917. Na cidade onde nasceu ele já se tornou nome de Parque e, agora, passa a ser nome de uma Galeria Permanente, instalada pela sua Prefeitura, que manterá suas obras ao alcance de visitantes, crianças e jovens que se orgulham de seu exemplo, se orgulham de sua arte e de ver um cidadão desta cidade, pequeninho, de apenas 1.60cm de altura, transformado em um gigante que entrou para história por meio de sua expressão artística, sua inteligência, seu dinamismo, sua entrega, sua capacidade e vontade de realizações.

Impossível continuar este relato sem dizer seu nome e o nome da cidade onde ele nasceu. Parabéns Grotte di Castro, por ter este seu filho ilustre e reconhecido internacionalmente. Estamos falando de Giuseppe, o menino que nasceu ali ao lado, na Via Santuário, número 25, no seio de uma típica família de agricultores viticultores, que ao ser ordenado Dominicano pediu que o chamassem de Nazareno: frei Nazareno Confaloni. Filho do sr. Luigi Confaloni e de dona Antônia Marabottini, que é a avó da Rossella, aqui presente, filha de Rita, a mais querida das irmãs de frei Confaloni, como veremos.

O menino Giuseppe Confaloni veio ao mundo no fim de uma Grande Guerra, e presenciaria a 2ª, escondido com a família nos arredores da cidade. Seus dois irmãos mais velhos (um dos quais de nome Nazareno) eram também seus primos, pois sua mãe, Antônia, havia anteriormente casado com seu tio, morto na 1ª guerra. Foi quando seu pai Luigi, irmão mais novo do marido morto no campo de batalha, a desposou para ela continuar na família, com quem ela teve outros 4 filhos. Dentre os quais, além de frei Confaloni, é preciso destacar Rita Confaloni, irmã mais nova de frei. Foi ela que, com sua paciência e devoção ao irmão, juntamente com seu marido, Ideale Orsini, guardou tudo o que se relacionava a frei Confaloni, seu irmão querido e artista missionário que foi morar além mar.

Graças à Rita, ao conhece-la no ano de 1986, aqui em Grotte di Castro, eu pude aprofundar as pesquisas que resultaram em um primeiro livro biográfico sobre o frei seu irmão, premiado e publicado no Brasil pela Pontifícia Universidade Católica e, recentemente, traduzido para o italiano, por iniciativa de Rossella Orsini e Aldo Quadrani.

Estes dois, Rossella Orsini e Aldo Quadrani, têm honrado a vontade de Rita e a memória do frei, realizando um trabalho criterioso para a proteção e divulgação do seu legado artístico e de sua vida tão ocupada, prolífica e frutífera. Agradeço a eles pelo apoio que nos tem dado no Brasil. E agradeço penhoradamente à Prefeitura de Grotte di Castro, a toda sua equipe, no nome do prefeito Antonio Domenico Rizzello, que tão bem percebe as riquezas que esta cidade tem.

Trago o testemunho de que as obras de frei Nazareno Confaloni são de um verdadeiro artista, em seu período, ombreado aos grandes nomes de meu país. Artista que deixou um legado que permanecerá na história, com seu exemplo reluzindo cada vez mais como uma referência do que o ser humano pode ser, do que pode sonhar -e do que é capaz de alcançar.

Como chave maior para seu entendimento, citando seu amigo frei Lourenço Maria Papin, podemos dizer que frei Confaloni seguiu em vida a Via Pulchritudinis, anunciada pelo Papa Paulo VI, que por meio do belo, nos guia a Deus.

José Peixoto da Silveira Jr (Px Silveira), em Grotte di Castro, Itália, aos 7 de setembro de 2044