Como começou

Registramos aqui uma pequena homenagem ao médico, político e poeta José Peixoto da Silveira, meu pai, que poucos meses antes de morrer, em uma manhã de 1986, me estendeu um pequeno pedaço de jornal que ele havia recortado e em que era anunciado o concurso de monografia sobre frei Confaloni, promovido pelo Pontifícia Universidade Católica (PUC-GO). 

Era uma informação que ele entregava a quem tinha uma galeria de arte e havia feito uma exposição em que figuravam uns poucos quadros do Confaloni, este frei e artista ainda então (1984) desconhecido de quase todos, mesmo no meio artístico goiano emergente. 

E era, também, bem a modo de meu pai fazer as coisas, um desafio silencioso para mergulhar a fundo na vida deste artista, na sua história e sua obra, que juntos fazem o seu legado. Desde então (já sem a contemplação paternal), fomos aos poucos garimpando, lapidando e tornando o legado de Confaloni cada vez mais visível, com a colaboração fundamental de pessoas que o conheceram, em especial, sua irmã Rita e seu marido Ideale, que nos acolheram de portas abertas, no ano de 1986, em Grotte di Castro e Viterbo, após nossa apresentação por carta amorosa de Regina Lacerda, por quem a família de Confaloni mantinha verdadeira veneração. 

Escrevo estas linhas em setembro de 2024, depois de termos publicado 5 títulos sobre sua obra, de termos, entre outras, feito uma grande exposição marcando o 1º Centenário de seu Nascimento (com mais de 350 obras), comemorado os 50 anos de sua chegada ao Brasil, iniciado seu Raisonné -já contando com mais de 1.500 registros de suas criações, constituído a Comissão Confaloni, de caráter permanente, e ver a chegada de outros protagonistas com suas importantes pesquisas e teses de Doutorados, entre elas, Jacqueline Vigário, Maria Abadia (reincidindo!) e Ana Kelly, por ordem cronológica. E, principalmente, depois de termos conseguido concretizar a inauguração de dois museus em sua homenagem: o Museu Frei Confaloni, na antiga Estação Ferroviária de Goiânia, onde ele tem dois gigantescos painéis em afresco, e no qual figuram a Sala Luiz Curado e a Biblioteca Amaury Menezes, nomes de dois de seus fieis companheiros, administrado pela Prefeitura de Goiânia; e o Museu Histórico Dominicano Frei Nazareno Confaloni, na cidade de Goiás, onde ele chegou ao Brasil. Para a concretização do primeiro, é preciso citar os nomes de Iris Rezende, então prefeito, e Kleber Adorno, seu diligente secretário de cultura. Para o segundo, o nome de frei Henrique-Cristiano Bhering, OP, harmonioso reitor do Santuário do Rosário. 

Cabe aqui o registro de que, se a Pontifícia Universidade Católica de Goiás não fez (ainda) o prometido Museu Confaloni, ela tem sido um dos mais sólidos pilares para a divulgação e preservação do legado deste artista ítalo-cerratense, por meio de concurso, seminários, exposições, publicações, incentivo a pesquisas e total apoio às iniciativas que se apresentam.

Que fique bem registrado. Este lado de cá não teria tido sucesso se não fosse o lado de lá, representado pelos amorosos e proativos Rita Confaloni e Ideale Orsini, irmã e cunhado de frei Confaloni, complementados posteriormente por Aldo Quadrani e Rossella Orsini, sua dileta sobrinha. Desde o primeiro encontro eles foram admiráveis hospitaleiros, apoiadores e incentivadores do trabalho de pesquisa e, já mais recentemente, da catalogação raisonée na parte italiana (onde pudemos registrar 185 obras, até o momento). 

E nesta mesma Itália, frei Nazareno Confaloni já recebeu importantes homenagens e mostras promovidas por sua família, em Viterbo e na sua cidade natal, Grotte di Castro, onde foi inaugurado um Parque Público com seu nome, por ocasião do seu Centenário de Nascimento, foi lançada a edição italiana do livro Conhecer Confaloni, originalmente publicado pela PUC-GO, e inaugurada pela Prefeitura Municipal uma galeria com mostra permanente de seus trabalhos, com apoio do Ministério da Cultura da Itália e da Comunidade Europeia. 

Depois de todos estes anos de trabalho, então despertado por aquele recorte de jornal, eis-nos aqui. Seguindo em frente, muito agradecido, Px Silveira!

 

VENTOS NOVOS

No ano de 2019, por meio de Antolinda Baia Borges, conhecemos na cidade de Goiás o frei Cristiano Bhering, o então novo Reitor do Santuário do Rosário, que de imediato à sua chegada (ele havia passado ali uma primeira temporada em 2017) demonstrou interesse pela figura e pela obra de frei Confaloni e, em pouco tempo, se tornou um conhecedor e o nosso interlocutor natural junto aos Dominicanos. 

Seu profícuo trabalho em favor do legado de frei Confaloni foi reforçado a partir da exitosa inauguração do Museu Histórico Dominicano Frei Nazareno Confaloni. Trata-se de um museu muito bem concebido e planejado, e que assim nasceu bem estruturado e com vida longa pela frente. 

Como um ato também natural de nossa parte, resolvemos passar a assinar conjuntamente o Raisonné Confaloni e, bem como, este Portal no mundo eletrônico, com os bons grados da Comissão Confaloni, que também o acolheu.

Ativo 5@2x
O médico, político e poeta José Peixoto da Silveira em seu escritório (início década 1960)

Frei Cristiano Bhering ao lado de Amaury Menezes, na inauguração do Museu Histórico Dominicano  Frei Nazareno Confaloni, na cidade de Goiás